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ARTIGO: O jogo de xadrez e as estratégias da empregabilidade

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Pensar no mundo do emprego nos dias da Covid-19 e quando chegar no fim da pandemia é algo necessário, mas talvez muito dramático devido ao que sentimos e vemos acontecer através da mídia com os trabalhadores, isso faz com que o prognóstico talvez seja mais desfavorável ainda.

            Segundo o IBGE o número de desempregados no Brasil ficou no primeiro trimestre de 2020 em 12,2%, com 12,85 milhões de pessoas sem ocupação remunerada no país. Algo muito cruel que mostra a dificuldade que teremos pela frente no mundo do trabalho.

            Yuval Noah Harari é um professor israelense de História autor celebrado mundialmente que na obra 21 lições para o século 21 traz uma visão panorâmica do emprego dos dias atuais até 2050. Nas próximas linhas tecerei alguns comentários a partir de insights concebidos na leitura da obra.

            A humanidade desenvolveu em sua evolução as capacidades físicas, cognitivas e emocionais. Aos poucos as ferramentas e depois as máquinas foram substituindo o esforço físico no trabalho, cabendo ao homem o reinar na capacidade cognitiva, pois a máquina faz o que o operador pensa para ela. Isso levou a uma maior produtividade, mas não diminui a carga de trabalho que transformou o quadro de saúde surgindo inúmeros adoecimentos mentais afetando consideravelmente as emoções dos trabalhadores.

            No século 21 entra em cena a Inteligência Artificial que propõe o uso de computadores e programas para em primeiro momento simular o pensamento humano e em seguida superá-lo. Ela já começou a impactar profundamente as relações sociais sem deixar de lado as questões do trabalho.

            Vou exemplificar a questão dos veículos autônomos.  Um carro autônomo é um veículo robotizado, feito para viajar entre lugares sem que o motorista necessite fazer algum empenho, na verdade ele nem precisa do motorista. Esse modo de locomoção tende a ser muito utilizado, pois a probabilidade estatística de acontecer um acidente é muito baixa, porque grande parte dos acidentes de trânsito são decorrentes de falhas humanas, então a adoção desse modo de transporte em larga escala poderia salvar inúmeras vidas, mas por outro lado como os motoristas profissionais vão sustentar suas famílias?

            Quando o carro substituiu as carruagens e carroças os cocheiros evoluíram para motoristas, mas agora: para onde irão os motoristas se os carros autônomos entrar no gosto das pessoas e empresas? Não podemos aceitar que o sujeito (motorista) seja descartado do processo de transporte como os cavalos foram com o fim das carroças, ou podemos?

            Estamos diante de um paradoxo. Deve-se proteger o emprego ou o trabalhador. A primeiro momento, esmagadoramente falaremos de proteção ao homem que trabalha, todavia não é o que se vê na prática. O que percebemos é a uberização do trabalho em que a precarização do emprego deixa os trabalhadores mais vulneráveis e sem garantias trabalhistas.

            Perante esse dilema talvez uma das saídas seja a educação. Mas uma educação diferente, voltada para a criatividade, a colaboração e o uso da tecnologia dentro da internet das coisas. E isso tem se mostrado como mais um problema, pois com o ensino remoto (mediado pela tecnologia), ficou muito nítido o fosso de acesso aos mecanismos tecnológicos de qualidade entre os mais ricos em detrimento aos mais pobres.

            É importante saber que o tempo não para com dizia Cazuza e o futuro não pode repetir o passado. Não podemos perder a janela para dar o salto qualitativo na massa dos trabalhadores. As mudanças são disruptivas e aceleradas. Não podemos deixar a geração de crianças atual chegar em 2050 sem as qualificações necessárias para serem úteis no novo mercado de trabalho.

O Xadrez é um esporte, mas também é classificado como arte e ciência. Uma atividade humana considerada de muito requinte, inteligência e sofisticação. O programa da IBM Deep Blue ganhou em 1997 de Gary Kasparov (respeitado por muitos como um grande campeão do xadrez). De lá para cá já apareceu outros programas.

Segundo Harari  em 7 de dezembro de 2017 o AlphaZero, do Google, derrotou o programa Stockfish 8. Stockfish 8 foi o computador campeão mundial de xadrez de 2016. O AlphaZero jogava contra si mesmo, utilizando os mais recentes princípios de autoaprendizado de máquina. Não obstante, em cem partidas contra o Stockfish 8, o AlphaZero venceu 28 e empatou 72.

A IBM tem a plataforma Watson de Inteligência artificial que é usada em áreas como Saúde, Educação, Bancos, Agricultura, Cultura, entre outras. Tudo isso afetando consideravelmente a empregabilidade.

Devemos pensar no modo em que a Educação formal está ocorrendo no chão da escola. O modelo pedagógico centrado no conteúdo não vai conseguir dar conta da demanda, pois algum aplicativo na palma da mão pode ter as informações necessárias quando necessário. Penso que ensinar a ser flexível e se adaptar ao novo seja o campo que a escola deve explorar, mas para isso terá que abrir mão da burocracia mofenta que do ensino público ao particular está algemado ao passado e se jogar sem medo ao novo sabendo que errar faz parte do processo de mudanças.

Vamos jogar xadrez! Detalhe: sou muito ruim.

 

Aguinaldo Adelino Carvalho
Palestrante, professor, psicoterapeuta e teólogo.

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