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Ex-seminarista relata ter sido abusado sexualmente por padres

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Um ex-seminarista de 36 anos denunciou à Polícia Civil, na quinta-feira (26), abusos sexuais supostamente sofridos por ele por dois padres da diocese de Assis (SP) há aproximadamente 20 anos, quando ele ainda era menor de idade.

Ele afirmou ter sido estuprado por um dos padres em 2002 e, depois de confessar o ocorrido para o segundo, foi “ludibriado” por manter um relacionamento com sexo consentido durante os dois anos seguintes.

Além do boletim de ocorrência registrado na última semana, o denunciante já havia relatado o que sofreu ao Tribunal Interdiocesano localizado em Assis, no começo de 2021. A demora em procurar a Justiça se deu devido ao trauma, segundo a vítima.

A equipe do temmais.com questionou a diocese de Assis, através do advogado indicado para falar sobre o assunto, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

A vítima disse que sua denúncia já chegou até o Vaticano, cuja assessoria de imprensa também foi procurada, mas igualmente sem resposta.

Além da denúncia de supostos abusos, o ex-seminarista disse que foi procurado pelo segundo padre com oferta de suborno depois de ter procurado a igreja para relatar sua história.

O portal teve acesso ao boletim de ocorrência, mas, como o caso ainda será investigado pela Polícia Civil, os nomes serão preservados. Também foram fornecidas cópias das denúncias à Igreja Católica.

Relato

O ex-seminarista relatou ao Tribunal Interdiocesano o estupro que disse ter sofrido aos 16 anos, na cidade de Iepê (SP), na casa paroquial.

Segundo o denunciante, no dia seguinte, ele tentou questionar o padre antes de acompanhá-lo nos compromissos paroquiais, mas foi silenciado. “Acredito hoje que tenha feito uso de sua hierarquia, mandou me calar”. Depois, eles nunca mais teriam tido contato.

Após um retiro espiritual e alguns meses depois, o ex-seminarista se aproximou do segundo padre, com quem se sentiu confortável para buscar orientação espiritual após o trauma vivido.

“Em uma noite no ano de 2003, ele me chamou para sair à noite tomar um ‘du-vin’ (acredito que seja vinho em francês, pelo menos foi o que eu entendi na época)”, relatou a vítima. Depois do passeio, eles teriam ido para a casa da catedral de Assis.

“Ao entrar, ele já foi me conduzindo com falas suaves, me dando beijo e, quando me dei conta, estava na cama com ele. O sexo acabou sendo consentido pela confiança que eu tinha nele, o meu mentor me mostraria o que era a vida sexual saudável”.

Contudo, o então seminarista compreendeu posteriormente que o padre “estava fazendo uso do que tinha dito nas direções espirituais para ir me conduzindo até que chegasse ao ato”.

“Foi se formando uma amizade, pelo menos era o que eu pensava ser. Meus gostos nunca eram respeitados, meus limites nunca aprovados”, relatou. “Hoje mais maduro, sei que eu era nada menos, nada mais que o seu brinquedo sexual, fazendo uso do respeito e carinho que tinha por ele”.

Denúncia

Segundo o denunciante, até 2020 ninguém além dos envolvidos havia ficado sabendo dos episódios acima. “Em janeiro de 2021, após anos sofrendo calado, doente e passando por tratamento psiquiátrico e psicológico, denunciei o abuso sexual ocorrido”.

A vítima disse ter conseguido inclusive localizar outro ex-seminarista também supostamente abusado pelos mesmos padres.

“Foram anos de angústia e sofrimento, medo, até que consegui denunciar os fatos ao Tribunal Eclesiástico”, contou. “Na denúncia constam detalhes, minúcias do abuso e do estupro; consegui fazê-la com uma riqueza de detalhes para que a minha voz não fosse calada”.

Com medo do processo interno da igreja ser arquivado, o homem disse que enviou uma uma carta Nunciatura Apostólica, em Brasília (DF), “narrando os fatos, para que o processo não ficasse no esquecimento”.

Ele afirmou que o processo foi encaminhado para Roma, sede da Igreja Católica, que devolveu uma resposta “de que havia forte indícios dos crimes cometidos pelos padres agressores”.

A ausência de punições contra os acusados por ele é o que motivou, como disse, que a Polícia Civil e a imprensa fossem procurados no momento.

“A igreja só olha para a dor da vítima quando os fatos são tornados públicos, pois ainda corre-se o risco de em crimes deste nível os agressores serem apenas afastados temporariamente ou transferidos de paróquias, algo que não vejo como sadio, já que podem continuar abusando e estuprando outros menores e jovens que não tiveram a mesma coragem de denunciá-los como eu tive”, desabafou.

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