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ARTIGO: Expressar suas necessidades dói?

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Expressar as necessidades pode ser assustador. No mundo pós-moderno em que o julgamento vem antes da empatia, torna-se difícil contar, ou revelar nossas necessidades. Principalmente para as mulheres que historicamente tiveram sua imagem construída com base na amorosidade associada ao sacrifício de suas necessidades para “dar conta” das necessidades dos outros. E fugir desta regra, culturalmente, instituída é ter coragem de estar vulnerável ao que vão pensar “Ai, ai, ai” (risos) e daí? O que vão dizer não define o que uma pessoa é na verdade.

 

Esta ditadura, enclausura mulheres pelo ensino constituído em nossa sociedade, já que considera como principal obrigação das mulheres, o cuidado com os outros. Infelizmente, muitas vivem a escravidão emocional, acreditam nas crenças que lhes foram ensinadas ao longo de suas vidas.

Não é difícil de encontrar no seio familiar mulheres que por medo de dizer o que  realmente estão precisando como “hoje estou cansada, preciso de um tempo à  noite para mim” , acabam  criando uma cena de tribunal onde  podem ser julgadas negativamente, com direito a advogado e tudo, “sabe, não tive um instante para mim mesma o dia todo.  Passei todas as camisas, lavei as roupas da semana toda, levei o cachorro ao veterinário, fiz a janta, fiz a marmita do almoço e telefonei para todos os vizinhos para avisar da reunião do bairro, então [implorando]…Que tal se você…? “Não!”, resposta rápida. Considera Marshall B. Rosenberg, em seu livro, Comunicação Não Violenta.

 

Esse tipo de pedido faz com que o ouvinte não sinta compaixão, pelo contrário, provoca resistência. Porque esse tempo de fala acaba colocando como obrigação, ou imposição para o outro tomar uma atitude, ou ainda, como mensagem velada, de comparação, eu fiz e você? Ou ainda, fiz tudo isso, não está na hora de você fazer também? O que deveria ser um pedido, como escrevo anteriormente, passa a ser algo imposto.  E a mensagem de necessidade não é processada e valorizada como deveria para que a necessidade fosse atendida. Essa tentativa de pedir acaba sendo tola com intenção de expressar o que deveria ou merecia ganhar dos outros. E mais uma vez a mulher recebe o feedback de que suas necessidades não importam.

Esse texto é um alerta, pois muitos não percebem que esta forma de expressar, e receber uma resposta favorável, é improvável que aconteça.

 

“Se não valorizamos nossas necessidades, é provável que os outros também não as valorizem”. Afirma Marshall. Então, Ame ao próximo como a ti mesmo.

Fazer rodeios e não dizer diretamente o que precisa é entregar na mão do outro suas necessidades e dificilmente serão atendidas.

 

Sair do estado de “ruminação”, e expressar as necessidades não é tarefa fácil, o medo de não ser amada, ou de não ser a menina boazinha, faz com que as pessoas fiquem refém das atitudes dos outros. Ser personagem na vida real causa muita dor.  Legal mesmo é ser autêntico, ser você, fazer a vida ser mais leve e ter sentido. Ser amado por ser você é uma necessidade básica do ser humano, mas isso só é possível se você se amar primeiro.

Comunicar suas necessidades de autonomia, celebração, integridade, independência, lazer, comunhão espiritual, necessidades físicas, não podem ser terceirizadas. Sabendo que expressar pode ser uma tarefa difícil, principalmente para quem cresceu ouvindo “você tem coragem de pedir isso?” Não viu que não temos dinheiro? Ou não percebeu que… Se existisse bola de cristal, seria campeã de vendas.

 

Portanto, expressar é necessidade básica. E fazer isso de forma não violenta é urgente, não só para as mulheres. O que não é dito, sai pelos poros, ou seja, como manifestação de doenças: somatização, uma forma do corpo expressar as necessidades reprimidas. Expressar pode doer muito quando não sabemos utilizar as palavras, ou sentimos medo, mas não expressar, a longo prazo, dói mais ainda.

 

A psicoterapia pode ajudar no processo de libertação emocional; não é simplesmente ligar o dane-se, mas fazer a gestão da emoção com empatia, amor e zelo, afinal, estamos falando de vidas, pessoas que amamos e queremos bem.

 

Rosane de Carvalho,Psicanalista -CBO 2515-50

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